Mayombe, microcosmo da nação angolana : fragmentação tribal e unidade revolucionária

Abstract

Resumo: O trabalho aqui apresentado pretendeu analisar o romance Mayombe, de Pepetela, buscando dele extrair seu conteúdo essencial, seu aspecto mais significativo, aquele que Fábio Akcelrud Durão chama de hipótese interpretativa. Dentro dessa perspectiva, identificamos o vetor estrutural do romance como sendo composto pelo antagonismo de forças entre a fragmentação tribal e a união em torno do ideal comum, ou seja, a expulsão do colonizador português e o consequente fim do sistema de espoliação caracterizador de toda empresa colonial. Além disso, com base nos posicionamentos pessoais do autor do romance, sustentamos que essa visão, isto é, o antagonismo de forças, transposto para a ficção, correspondia à sua forma de enxergar a nação angolana no período em que se passa a história, ou seja, o contexto em que se desenvolve a trama ficcional coincide com aquele contexto vislumbrado pelo autor na realidade angolana de então. A fim de demonstrar nossa hipótese interpretativa, buscaram-se no texto os elementos indicativos tanto da fragmentação tribal e de suas consequências nefastas para o movimento de libertação de Angola quanto os dados reveladores de que a busca da independência e a expulsão do explorador eram capazes de produzir uma força aglutinadora que fizesse frente à tensão étnica. Os dados mais significativos da fragmentação tribal e da tensão dela decorrente foram identificados na construção dos personagens e na forma de estruturação da voz narrativa, que é compartilhada entre um narrador principal e narradores secundários, personagens que recebem a voz do narrador titular. Também no enredo se identificaram elementos indicativos da fragilidade provocada no movimento revolucionário pela fragmentação tribal, embora, também no enredo estivessem presentes diversas passagens sinalizadoras da potência representada pelo ideal libertador comum. Finalmente, sustentou-se que a floresta do Mayombe, que dá nome ao romance, funciona como uma representação microcósmica da Angola da época, reunindo no seu seio os principais elementos étnicos que compõe a nação como um todo e reproduzindo, em escala reduzida, os conflitos e esperanças do país de então.

Abstract: The work presented here aimed to analyse Pepetela's novel Mayombe, seeking to extract from it its essential content, its most significant aspect, that which Fabio Akcelrud Durão calls an interpretative hypothesis. Within this perspective, we identify the structural vector of the novel as being composed by the antagonism of forces between tribal fragmentation and the union around the common ideal, that is, the expulsion of the Portuguese colonizer and the consequent end of the spoliation system that characterizes all colonial enterprises. Furthermore, based on the personal positions of the author of the novel, we maintain that this vision, that is, the antagonism of forces, transposed to fiction, corresponded to his way of seeing the Angolan nation in the period in which the story takes place, that is, the context in which the fictional plot develops coincides with that context glimpsed by the author in the Angolan reality of the time. In order to demonstrate our interpretative hypothesis, elements indicating both tribal fragmentation and its harmful consequences for Angola's liberation movement and the evidence that the search for independence and the expulsion of the explorer were capable of producing a binding force to confront ethnic tension were sought in the text. The most significant data on tribal fragmentation and the resulting tension were identified in the construction of the characters and in the form of structuring of the narrative voice, which is shared between a lead narrator and secondary narrators, characters who receive the voice of the lead narrator. The plot also identified elements indicating the fragility caused in the revolutionary movement by tribal fragmentation, although the plot also contained several passages signaling the power represented by the common liberating ideal. Finally, it was argued that the Mayombe forest, which gives the novel its name, functions as a microcosmic representation of the Angola of the time, bringing together the main ethnic elements that make up the nation as a whole and reproducing, on a small scale, the conflicts and hopes of the country of the time.