A percepção de mulheres em uma casa de acolhimento acerca da violência vivida

Abstract

Resumo: A violência contra as mulheres é fenômeno recorrente na história da humanidade e faz parte de um sistema sócio-histórico que colocou as mulheres em uma posição de inferioridade e produziu em nossa sociedade relações de desigualdade entre homens e mulheres, que contribuem para a violência contra a mulher no âmbito doméstico, em larga escala. O índice de violência doméstica contra as mulheres no Brasil é alarmante. De acordo com o Cronômetro da Violência contra as mulheres no Brasil, ocorrem: 5 espancamentos a cada 2 minutos, 1 estupro a cada 11 minutos, 1 feminicídio a cada 90 minutos, 179 relatos de agressões por dia e 13 homicídios femininos por dia em 2013 (Mapa da Violência 2015/Flacso). As Casas de Acolhimento Sigiloso visam contribuir para a proteção daquelas mulheres em risco de morte e auxiliá-las na reconstrução de seus projetos de vida. Esta pesquisa, de natureza qualitativa, fez uso da metodologia da História Oral em uma Organização Não Governamental (ONG), especializada em violência doméstica, situada no município de São José dos Campos-SP. Objetivou compreender o fenômeno da violência doméstica a partir das percepções das mulheres vítimas de tal situação para responder à seguinte questão: Como as mulheres que vivenciam a experiência da violência doméstica percebem esse fenômeno? As entrevistas com quatro dessas mulheres foram guiadas por um roteiro, e a análise das narrativas se deu por meio da técnica da triangulação. As mulheres abrigadas são, na maioria, jovens, em idade produtiva, brancas, com baixa escolaridade, convivendo com o companheiro em união estável. Dentre as violências sofridas prevalece a violência psicológica, permeando todas as relações conjugais. A residência é o espaço com o maior número de episódios descritos. O levantamento sociodemográfico revelou que as mulheres vítimas de violência doméstica acolhidas assemelham-se ao perfil nacional, com pouquíssimas particularidades. A violência vincula-se à intergeracionalidade, ao abandono sofrido na infância/adolescência, ao próprio ciclo da violência e parece ter como causas a falta de informação, o uso de droga e álcool, o ciúme, a permissão da agressão e a traição. A compreensão sobre a violência é ainda insuficiente, visto que não se consegue entendê-la vinculada à questão de gênero, ao capitalismo e ao patriarcado, o que dificulta o rompimento desse processo.

Abstract: Violence against women is a recurrent phenomenon in the history of mankind and is part of a socio-historical system that has placed women in an inferior position and has produced in our society inequalities between men and women that contribute to violence against women in the domestic sphere, on a large scale. The rate of domestic violence against women in Brazil is alarming, and Confidential Host House is intended to contribute to the protection of women at risk of death and to assist them in the reconstruction of their life projects. This research, of a qualitative nature, made use of the Oral History methodology in a non-governmental organization specialized in domestic violence, located in the municipality of São José dos Campos-SP. It aimed to understand the phenomenon of domestic violence from the perceptions of women victims of this situation to answer the following question: How do women who experience the experience of domestic violence perceive this phenomenon? The interviews with some of these women were guided by a script and the analysis of the narratives was done through the technique of triangulation. The sheltered women are mostly young, of productive age, white, with low schooling, living with the partner in stable union. Among the violence suffered, psychological violence prevails, permeating all marital relations. The residence is the space with the largest number of episodes described. The sociodemographic survey revealed that the women victims of domestic violence welcomed resembled the national profile, with very few particularities. Violence is linked to intergenerationality, to abandonment suffered in childhood / adolescence, to the cycle of violence itself and seems to have as causes the lack of information, the use of drugs and alcohol, jealousy, permission of aggression and betrayal. The understanding of violence is still insufficient, since one can not understand it linked to the question of gender, capitalism and patriarchy, which makes it difficult to break this process.